Os aficionados por açaí vivem o melhor período para consumo do alimento. Com a chegada do período da safra, aumentou a oferta do produto e o preço do litro do açaí registrou queda de 19,38% entre junho e julho, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA). Em junho, o litro do tipo médio custava R$ 22,38, já no mês passado chegou a R$ 18,04.
A redução de preços também é observada em relação a outros períodos. Entre janeiro e julho deste ano, o recuo foi de 3,26% e de 15,68% no acumulado de 12 meses. Vale ressaltar que há diferenças de preços entre os pontos de venda. Enquanto nas feiras livres o açaí pode ser encontrado por até R$ 10, nos supermercados o valor médio é de R$ 16.
Com os preços mais acessíveis, consumidores como o policial militar Heraldo Paulino aproveitam para comprar mais. “Realmente o preço está mais em conta e a qualidade do fruto está melhor”, afirma ele, que diz que costuma comprar açaí aos sábados, mas esteve na feira da 25, na avenida Rômulo Maiorana, na manhã desta quarta-feira (31) para oferecer um almoço a visitas. No local, os valores cobrados pelos batedores artesanais de açaí variam de R$ 16 a R$ 20.
Se para o consumidor comum a safra trouxe boas notícias, o setor industrial considera que a oferta do fruto está abaixo do esperado. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindfrutas), a produção dos açaizais diminuiu cerca de 50% em relação à safra dos anos anteriores, que foi estimada em 1,4 milhão de toneladas pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A razão para essa diminuição significativa seria uma quebra de safra ocasionada por condições climáticas desfavoráveis ao desenvolvimento das palmeiras. “Em algumas regiões produtoras passamos 30 dias sem chuvas nas ilhas. Isso deixa o solo seco, a planta se estressa e não cacheia tanto quanto se esperava”, explica o presidente do Sindfrutas, Reinaldo Santos.
Devido à produtividade menor, a oferta caiu e, com isso, os preços pagos pelos empresários pela matéria-prima quase dobraram. Santos afirma o preço da lata – equivalente a 14 kg da fruta – era R$ 30 em 2021 e agora a mesma quantidade é encontrada por até R$ 55. Com isso, o setor já opera aquém da sua capacidade e tem dificuldades de atender as demandas de fora do estado e do exterior.
“Hoje, o mercado já está sentindo muito esse aumento. Mesmo comprando de produtores e pequenas famílias ribeirinhas, cada um está produzindo com essa quebra de safra. A produção deve ser 30% menor”, diz o empresário, esclarecendo que o maior efeito é sentido pelas indústrias, mas ele não descarta que a população em geral possa ser afetada em meados de setembro. “O consumidor local absorve o açaí com um preço diferente, mas com certeza vai afetar porque a falta de fruto é para o mercado em geral”.
Para quem atua no ramo de venda de açaí, a escassez e o encarecimento do fruto já é um realidade. Leoclídes Andrade, 66 anos, tem 26 anos de vida dedicados a um comércio de venda açaí na feira da 25. Todos os dias, às 4h30, ele já está no Mercado do Ver-o-Peso negociando o insumo e nota com frequência a volatilidade nos preços. Segundo ele, a depender do dia, uma rasa de açaí – o paneiro que comporta em torno de duas latas e meia do fruto – pode ser comprada por valores que vão de R$ 140 a R$ 180.
Aliado a isso, Leoclides diz que a oferta do produto ainda não chegou aos patamares esperados. “Nós estamos tendo uma falha de açaí. Na realidade, essa safra atrasou. Geralmente, do fim de julho para início de agosto nós já estávamos na safra do açaí e essa época não estamos ainda. Nós acreditamos que ainda vem uma safra a partir de setembro”, diz o batedor que tem expectativa pela entrada da produção oriunda do Marajó e de Igarapé-Miri no mercado, apesar de temer uma abordagem mais agressiva das indústrias em busca do fruto.
Leoclides afirma ainda que os empreendimentos artesanais tem enfrentado dificuldades com a elevação dos custos de manutenção, que envolvem, por exemplo, a contração de pessoal e o atendimento das exigências de vigilância sanitária na manipulação do produto. “Você vê o sistema de branqueamento, altera o preço da energia. A água também é cara. Na realidade, está todo mundo trabalhando no vermelho para manter a loja funcionando”, relata ele, que, por outro lado, não pensa em abrir mão do negócio. “O açaí é o prato número um da nossa região e a gente depende do açaí”, frisa.
Fonte: Fabricio Queiroz/OLiberal